20110913

Jerash, Jordânia - Vint'cinco-mil-oitocentos-e-trinta-e-quaaatro - soltou o tenor, inchando um peitilho folhado a cautelas. O público, indiferente, passou-lhe ao largo. Lentamente, levantou-se da pedra onde estava acabrunhado e saiu de cena, arrastando uma pose gasta. Discretamente atento, do outro lado da rua e da montra, estava um senhor que vendia saúde, apesar de ter muito má cara. Na farmácia onde trabalhava, gostava de medir a tensão, sentado num banco alto. Gostava, especialmente, do apertar do braço, de ver a agonia à tona dos olhos e do tom magnânimo com que comentava o vaticínio do talão. Já um pouco desatento, na casa ao lado, trabalhava um velho mosqueteiro, encostado das tarefas palacianas. Era caixa. Caixa num banco; e sentia-se abandonado. O segurança, vendo a embalagem suspeita, chamou uns especialistas, devidamente protegidos, que a desmontaram, víscera a víscera, sem que, no entanto, fosse detectado qualquer elemento perigoso. Posteriormente foi incinerada e não se falou mais nisso. O banco abriu uma vaga. A mãe ralhou ao filho "Senta-te direito, que estás a dar cabo das costas".