20170110

 Roma, Itália

O sol de inverno faz mal à cabeça. Dá-lhe ideias. Põe-na a pensar em coisas de felicidade. Constrói um microclima emocional propício à formação de projetos. Um anacronismo que traz o nariz hibernado para fora da toca.
Atravessar um inverno pressupõe penitência. Abraçar o crepúsculo em arrepio, ler à candeia e desenterrar mortalhas. Quando a bola de naftalina se expõe à bola de fogo, sua o baço depressivo com uns bonitos reflexos circundantes.
Este sol destrói o equilíbrio entre o bem e o mal-estar, efabulando a vida como um refresco. E a realidade, assim provocada, retalia na forma de uma bela dor de cabeça.

20170104

Roma, Itália

De um ponto de vista elevado ganha-se distância e momento. Manobra e reflexão. Não é uma postura pedante, mas implica andar a pé. Ao longe, as coisas soltas sentindo-se observadas agregam-se entre elas e a outras coisas diferentes, formando algo maior e indistinto. A visão superior tem assim este efeito tão curioso quanto irrefletido de modelar a paisagem. Esta, por sua vez, retalia, condicionando a perspetiva. Neste continuum perde-se a noção do que é relevo e do que é relevante. Com terrenos tão movediços à frente, o olhar vai atrás em busca de conforto, surpreendendo-se com a lonjura do início. Perante tal desorientação e estado comprometido resta-lhe apenas aguardar pelo que foi desejado.