20110719

Petra, Jordânia Há muitos, muitos, muitos anos, vivia no alto da serra um pastor de lobos. Desgraçadamente, deixou de viver. Na primeira manhã de pastoreio, o pobre homem foi dilacerado pelo seu vil rebanho, que passou a ser conhecido como alcateia. O seu filho mais velho, chorou-lhe a morte por muitas luas. Quando lhe minguou o pranto, cresceu-lhe a vontade de seguir as pisadas do pai. Foi deste modo que chegou ao local da desgraça, agora poiso de um grande rebanho de corvos gordos. Tomou isto como um sinal e arrebanhou-os para seu uso. Em duas penadas comeram-lhe os olhos humedecidos, levando o varão, cego de dor, a cair por uma ravina escura, enquanto os injuriava de bando. O irmão mais novo, benjamim da família e último descendente macho de uma longa linhagem de pastores da serra, era um rapaz estranho. Olhou para a enorme quantidade de ovelhas que, desde tempos imemoriais, assombravam as terras da família, e assobiou. Ordeiras, as bestas juntaram-se à sua volta. Desde esse dia, passou a tratá-las como se de um rebanho verdadeiro se tratasse.
Kbal Spean, Cambodja Ser mergulhado, foi bem diferente de mergulhar. Quando andamos sós, pela nossa própria pernada, embora arregalados e submersos, é só um mundo fosco o que nos engole. Mas se nos deitam, deixamo-nos ir, de olhos bem fechados; e lá no fundo, a cabeça acorda para as coisas de cima. É inacreditável a quantidade de água que os olhos trazem na volta desse abraço azul. Tanta, que a repartimos. Inesgotável, que envelhecemos na sua frescura. Tão clara que nunca nos turva. Veio de fora para nascer cá dentro.