20160507

Seia, Portugal

(a new leaf on Russell's Fall)

Antes que as raízes arruinassem o tapete os pais
cortaram a golpe de machado o filho
plantado no meio da sala.

Enterraram-no num canteiro do pátio dentro
do próprio tronco.

Aguardam um rebento novo na primavera.

20160504


Malhão, Alentejo, Portugal

Ah, que felicidade imensa se retira de uma caminhada antropomórfica. Sentir-se bravio no deambular cabreiro pela mata virgem. As levadas connosco, as fileiras mudas de fetos novos. Ali, os cornos de um diabo popular, mais além, a cabeça petrificada de uma velha sem corpo. Que rota burlesca. Um eucalipto com as folhas em pé franze-me o sobrolho e a barbela. O peso do meu passo quebra os galhos como ossos.
Procuramos o humano nos bosques quando o urbano não é mais do que um emaranhado de sebes.
Wadi Rum, Jordânia

Uma fatia fina de talo de aipo parece um verme da couve, o que não é de estranhar. Sentindo-se aventureiro o verme-aipo começa rastejar pela banca em direção ao jardim. Um jardim autêntico, não uma dessas coisas áridas e meditativas, trabalhadas a ancinho. O verme-aipo revela-se muito lento nestes primeiros rastejos. Chega ao canteiro já noite cega. Um escaravelho-da-palmeira, entediado com a dieta tropical, vem a rolar uma bola de esterco na sua direção.
Vamos deixar o suspense matá-los a todos.