20111112

Ta Prohm, Cambodja Os risinhos soluçantes do engenheiro eram insuportáveis. Alguém tinha de o assustar. Metê-lo a sete golos debaixo de água ou deixá-lo sem respirar, por exemplo (conheço umas almofadas de penas que iam gostar disso). Ao invés, tomamos um ponto de vista invertido. Daqui, o sorriso amarelo do bicho torna-se num esgar amarelento de pôr os cabelos em pé. Parece funcionar; uma expressão violácea-paixão toma-lhe conta da face, agora tranquila. Vamos deixá-lo assim pendurado, por uns tempos, e usufruir de alguma paz de espírito. Ao terceiro dia, tinha desaparecido, ou coisa do género. Em seu lugar, uma buganvília colossal trepava pelo terraço alto, espraiando-se nos telhados. Era, em tudo, a cara dele: o corpo atarracado e fibroso, os membros desarticulados de unhas reviradas, os sulcos que antecediam as proeminências nodosas, até mesmo uns olhinhos de madeira, aqui e ali, semicerrados ao azedo da seiva. Zombava de nós, o vegetal. E, se dúvidas ficavam, era ver o desplante com que sacudia os ramos e entupia as caleiras com folhas velhas. Sentia-se alguma emulsão betuminosa a crescer nas paredes de saibro, antevendo a chegada das primeiras chuvas; os narizes ganhavam fungos. Foi aí que se deu a volta ao texto. Regressando ao segundo parágrafo, num movimento engenhoso, tomamos o ponto de vista inicial. A trepadeira, aflita, viu-se de pernas para o ar. Os ramos virulentos, cresceram contra o chão e estilhaçaram-se na tijoleira. Soltas da terra, as raízes esbracejaram em vão, acabando por sufocar ao ar, desgrenhadas. Nos tubos de queda, as águas seguiram o seu curso, aliviadas.