Matosinhos, Portugal
A praia como que arqueou uma espinha dorsal. Imaginem-se meia dúzia de pastores berberes - quase não os vemos de tão dissimulados que são - a encaminharem uma fiada longa de indolentes dromedários. Bossas e corcovas, corcovas e bossas. O horizonte ficou todo desalinhado. O mar, qual castor cauteloso, empurrava em direção à praia todo o tipo de galhos, recipientes e redes, tentando criar um dique ao topete das dunas.
Os montículos de areia pareciam intransponíveis para os olhos cansados de quem os observava da esplanada. Mas não para as crianças. Cansadas de ver os seus escorregas com a distância de uma perna, os baloiços asfixiados a esbracejar as correntes, os cavalinhos do balancé como pequenos monstros do Loch, trepavam pela falsidade destas dunas e lançavam-lhes arpões, ao longo dos seus costados. Era admirável ver estes pequenos heróis resolutos, tão seguros da sua praia, do seu lugar. Inquietos e nunca quietos, como tudo deveria ser.