20150212

Brufe, Terras de Bouro, Portugal

Refletido no ecrã da televisão apagada, o familiar torna-se soturno. As polegadas marcadas no vidro são o único sinal de contacto. O maple é ali um ditador empanturrado, com a manta de pelúcia por guardanapo. Não se destrinçam rostos. Todos são igualmente vultos e amortalhados. O programa é desolador. Em vão se tenta mudar de canal quando é retirado o poder de comando.
Pouco a pouco a mística da habituação instala-se e toma conta do raciocínio. As costas curvam onde não devem para se acomodarem ao inevitável. No ecrã moribundo continua a passar o reflexo de uma vida banal, sem inquietações, desfocada e plana. O espetáculo da vida irreal, seguido com um afinco cabisbaixo.
Este ócio rombudo cria espaço para pensar em coisas. A cabeça tomba e esvai-se num fio, enquanto a vida toda passa diante dos olhos... e pára, a retribuir o olhar.