Londres, Inglaterra
Tenho um colega meu arrumado atrás de uns livros, onde antes tinha uma pessoa amiga que deixei de seguir. Na prateleira de cima está uma caixa de rapaziada antiga que nunca mais usei e cheira a cedro. Um dia destes arranjei para lá umas cruzetas muito jeitosas, almofadadas a pot-pourri, onde vou deixando penduradas as situações que já não me apetece usar. Quando as afasto para chegar ao fundo, soltam belos tons de alfazema. Sempre que vou à gaveta das miudezas ela chia de surpresa, como se não me visse há muito tempo, e faz-se difícil de abrir trilhando uma peúga na ferragem.
O pó está a ganhar terreno. Começou por tomar as terras altas, onde a procissão não passa, e já se lança agora em diáfanas cascatas sobre os frisos laminados, quando suspiro. Tem caído também sobre uma camisola velha, cheia de borboto, que se está a tornar num excelente agasalho de lã.
Temo que, à custa de tanto fechar as portas para resguardar as coisas, o sombrio, o bafiento, enfim, o soturno se lá tenha instalado. É um inquilino que não faz muita companhia, mas também não incomoda. Acabo por me habituar a ele.