Amares, Portugal
Ali estava! Um comércio dobrado em gaveto. Entalado entre uma viela escorreita e uma rua emproada. Tradicional e de artigos vários sobretudo. À laia de inventário deslizamos o indicador:
. duas colunas a jurar fidelidade roufenha aos temas mais populares;
. um funcionário sem cálcio a arejar a ausência de dentição;
. várias pestanas de uma velha senhora a decifrar sopa de letras, quais bigodes de gato;
. uma cortina puída com ares de porta dos fundos;
. um casal fundador emoldurado, a perder a cor desde sempre;
. o nicho inacessível do sobranceiro santinho, bem acima do voltear das moscas;
. inúmeras folhas de caliça, soltas do teto, a desenhar um atlas improvável;
. um chão como lugar de conflito entre passadeiras e linóleos;
Que felicidade taciturna é suspirar na montra baça. Lançar a névoa, vê-la definhar. Resistir ao desejo de lhe abrir um sulco. Será que é mesmo assim este interior ou é o riscado encardido do vidro que nos engoda?