20090427


Piódão, Portugal

O homem olhava fixamente a tela a uma distância correctamente calculada a partir das dimensões da peça, técnica utilizada e condições de luz do momento. Olhava-a, também, seguindo as mais rigorosas regras da etiqueta de galeria, não esquecendo uma quase imperceptível inclinação da cabeça e um displicente colocar dos dedos indicador e médio sobre os lábios. Era perfeito. O mais distraído dos visitantes não podia deixar de se sentir um verdadeiro idiota, perante tal relação de cumplicidade. Homem e tela eram um só, descodificando conceitos e libertando metáforas. Parecia ter passado uma eternidade naquela posição, quando o fiel cão-guia se roçou nas suas pernas dando-lhe o sinal esperado. Aliviado o homem agarrou a trela e deixou-se levar.

1 comentário:

P Marvão disse...

O que parece ser, às vezes não é e o que não parece ser, às vezes é. É nesta dictomia que vivemos e que morremos.