20090529

Kairouan, Tunísia Entrei descalço. Enrolado na cintura, um pano longo, usado por muitos, disfarçava a falta de fé. O chão, morno e bafiento, dava aos passos um silêncio desconfortável. Rapidamente fui levado por pátios curtos e lanços de escadas sem degraus enquanto era impudicamente envolvido por tecidos húmidos em busca de calor. A nossa passagem era displicentemente seguida por olhares que cumpriam tarefas. Caminhamos assim por quatorze dias e dezasseis noites. Violentamente fui empurrado por uma pesada porta ornamentada e caí de joelhos no interior de uma sala asfixiante. A toda a volta centenas de milhares de sapatos erguiam-se em paredes desconcertantes. O próprio tecto era uma teia de sandálias penduradas em cordões de pele. O cheiro a animal era profundo. Tinha chegado ao meu destino. Só me perguntava como iria sair dali calçado.

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