20100502

Mangue Seco, Brasil Um furacão, digo-vos eu. Aqueles braços meigos empurram um par de mãos a velocidades de queimar um fogão. A falar encanta, num dialecto de gestos únicos: o polegar que desenha círculos na palma da outra mão, é só um bocadinho. Se as ondas ameaçam falta de ar, demove-as com gestos delicados. Faz cara de laranja azeda a todos os que não lhe tem doçura, mas não guarda lembrança dos podres. Joga o jogo-do-contente como ninguém; para soltar os restos de tristeza, bate com o ralo da banca nas paredes do lixo. Frágil, deixa marcas no que não está quieto e dá novas formas ao obsoleto. Uma opereta de gritos solta o riso do sisudo e de quem mais passa por Alcobaça. Não há quem não fique assombrado pelo ribombar da escadaria galgada em torrente; até os animais se encolhem, em reverência. Pinta uma tela e o nariz, a golpes soltos de cafeína. Se alguém lhe pede para sentar, já o tinha feito e, quando nos lembramos que precisamos de algo, já o providenciou. Tem quatro anéis à volta de uma vida e guarda o amor do mundo em bolsos esburacados. Falou a beduínos e banhou-se em terras de selva quente, mas uma barata descontrola-lhe as chineladas. Rescreve literatura e une a família. Só não quer é incomodar.

1 comentário:

Marta Almeida disse...

Quase chorei. =)