20110115

Beng Mealea, Cambodja A funcionária dos correios adorava aquele jogo solitário de encontrar um par. Jogava-o com qualquer um, insinuando-se o convite. Que bela que era, na tranquila eficácia com que ponderava as suas opções. Por mais agreste e ignota que fosse a terra, no sorriso escondido víamos-lhe a manha de saber das coisas. Só e sem medo, batia a esta e àquela porta até encontrar quem fizesse pandam. Na sua busca era altruísta. Parecia um misto de chefe de bando e casamenteira, com a voz clara a arrebanhar e casar os que ficavam pelo caminho. Velocista no passo, fazia o seu jogo sem pressas. Sabia que o chegar à alma gémea acabava com tudo e, por isso, fazia de conta que se enganava. No fim, Rosa enterrava sempre as duas últimas cartas no meio do baralho, sem as virar. Sem fazer o último par. A vida era-lhe demasiado preciosa para terminar.

Sem comentários: