20110130

Petra, Jordânia Como a porta da rua estava aberta, a de lá de cima bateu com um tal estrondo que até as varejas guinaram. Pendurada num fio de cediela, a máscara africana do riso estremeceu contra o vidro. O soalho de carvalho francês despertou e espreguiçou-se, estalando os nozinhos com violência. Ou as suas traves roçavam o solo do quintal, ou os torrões deste se afoitaram pela sala adentro. O certo é que na fronteira, ninguém sabia de que terra era. Pela sala esvoaçavam já sombras de limoeiro, de tangerinas e até de pacíficos galhos de oliveira. Manchas de humidade decoravam os lacados em pastéis de fungo. Sentia-se uma saudade do bosque, nas madeiras, e nas plantas, um espírito libertador. Nas águas de cima, o sótão estava com a telha em desalinho, de tão ventoso que estava, e a cave, se existisse aqui tal subterfúgio, estaria exactamente ao contrário. Uma casa abandonada, se quiséssemos ser indelicados para o bando de pombas que tão carinhosamente atapetavam o soalho com os seus excrementos. E que dizer daquele quarto em que a porta não abria? Que peso morto era aquele que fincava o pé a menos de uma frincha? A porta da rua encolheu as ombreiras e deixou-se ficar a arejar, rangendo de satisfação.

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