20161009

Senhora da Hora, Portugal

Isto sim, é uma revelação. Um escandaloso ultraje! Então não é que a ilustre e veneranda ciência, a distante elite tecnológica, a tenacidade obscura da investigação, enfim, todos os promontórios iluminados que desde sempre ampararam a infantilidade humana seguem afinal e apenas, tacitamente, os vaticínios dos profetas literários? Nunca existiram descobertas promissoras, avanços geniais ou quaisquer resultados surpreendentes; apenas um seguir respeitoso, com o dedo sujo, dos manuais de instruções. As obras escritas deixadas pelos loucos, com os seus delírios impensáveis, têm sido os livros de cânticos entoados pelos pragmáticos do mofo, em secretos altares bibliotecários. Os homens da ciência revelam-se os exímios operadores de pantógrafo destes textos sonhadores.
Temos andado a alimentar pançudos. Doutos imaginários. Esses falsos ídolos devem cair! Voltemo-nos para a verdadeira ficção. Ressuscitemos os fantasistas, os trovadores, as figuras de estilo dos lugares comuns e os visionários. Contemplem-se os tolos da aldeia, os vendedores de banha da cobra e os iludidos. Se colocarmos a dedicação e a argúcia ao serviço de um espírito humilde podemos assim ler o futuro. Está escrito. 

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