20250926

Iguaçu, Paraná

O porte mediano não evita o desconforto da proximidade. Nem mesmo a cómica crista encaracolada (a lembrar uma permanente depois da festa) apaga o calafrio que se escapa ao contemplar tão de perto esta ave. O Urumutum, pois é mesmo esse o seu intimidante nome, o pássaro-murmurante, olha-me circunspecto. Mas tudo isso é inútil; nada disso importa. O tremendo é o canto. Impensável. Não digo “imaginem” pois é tarefa vã. A primeira impressão é de uma presença que já lá estava antes, desconfortável, como um murmúrio gutural lento e compassado. Uma dor profunda de pena por cumprir. Um som que, não vindo de lado nenhum, entranha-se em todos os lados e faz vibrar a derme. O Urumutum tem a capacidade ventríloqua de desconsertar com a origem da sua voz. Uma técnica predatória perfeita. Cerca a presa com o seu lamento envolvente, paralisando-a com o lúgubre da sua intensidade. Em vão tenta o visado perceber de onde vem o ataque. Uma bicada certeira desfalece-o, pronto para uma digestão lenta. Urumutum. Só o nome congela o sangue. Um pássaro de alma penada.

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