20100121
Kata Tjuta, Austrália
Mal se ouvem os primeiros rumores de Inverno, é certo e sabido que a Viscondessa da Luz, florzinha de estufa, se fecha entre parêntesis a podar as suas didascálias premiadas. Com uma tesourinha muito peculiar, é vê-la, pressurosa, a aparar as atitudes menos dignas de qualquer general caído em desgraça, a cortar silêncios desagradáveis de um casal amargo ou até a desbastar catadupas de descrições enfadonhas e irrelevantes. Depois, com uma limazinha de meia-cana, entretém-se a amaciar compleições físicas de homens rudes e a enrubescer as faces de senhoras pudicas. Por vezes, permite-se mesmo fazer pequenos enxertos de ambientes românticos em cenas mais modernistas. A Viscondessa tem uma paixão itálica por tudo o que fica por dizer.
No entanto, há quem diga à boca cheia que a Viscondessa da Luz é o ser mais mesquinho e abjecto que jamais existiu; que merecia todas as pancadas que Molière lhe conseguisse acertar. Aos portões do seu palacete, magotes de personagens encarnados por actores perdidos, lançam-lhe falas soltas, desesperados por indicações de cena.
No recato dos seus parêntesis, a Viscondessa só pensa nos rebentos de floreados que irão brotar das suas didascálias, aos bocejos da Primavera.
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