20100123
Xcaret, México
Analisar o alter-ego do demo sempre deliciou o doutor Brodheim. Embora tivesse de juntar duas marquesas para acomodar tão enorme e diabólico paciente, tudo valia a pena quando conseguia extrair algumas lágrimas de vapor daqueles olhos de cabrão.
"Um bicho indomesticável", diziam os seus pedantes colegas de cátedra. Mas o doutor Brodheim tinha técnicas, olá se as tinha.
Naquela sessão em particular, dirigiu-se ao fundo falso da secretária e retirou de lá um arco em chamas - Ó diabo! - gritaram os dois, com entoações diferentes. Então, com a ajuda de uma chibata azul celeste, obrigou o velho mefistófeles a pular através do arco, de um lado para o outro, até à exaustão. O medo começou a transparecer nos olhos do demo; o doutor estalava a vergasta sem descanso. Com um soluço, o diabo começou a desfazer-se; primeiro caiu um corno já baço, depois o outro, meio ratado, desenroscou-se, a chiar. Em seguida os cascos derreteram-se numa poça de óleo deixando um cheiro a bolas de Berlim algarvias.
O doutor exultava e saltava ao eixo por cima dele, em calções.
A coisa ruim, agora em hipotermia vertiginosa, passava de um azul hirto a um roxo mirrado.
- A vitória da ciência! - coçava-se orgulhoso, o doutor, como uma tangerineira com formigas.
Grumos agonizantes saíam daquela figura medrosa dobrada em feto a um canto do consultório. Corredores de arrepios percorriam tanto o tratado como o tratante. Um bafo de paz encheu a sala. O demo, agora medo, ofegava; o doutor, arfava. A sala, ganhava focos de humidade.
Aquela sessão ficaria para os anais - Aqueles lentes caras-de-cu. - rilhou Brodheim.
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