20101218
Wadi Rum, Jordânia
Tudo começou quando, num momento de fraqueza, se lançou na cama de rede a ler um romance. O enredo, um bocadito morno, encheu-se de um balanço épico. A cada linha de texto, a vegetação crescia pelo horizonte acima, assombrando-lhe a página, e as nuvens escorriam, benevolentes, debaixo do seu corpo. Depois, no parágrafo seguinte, eram os céus que se enrolavam em vagas sobre o antigo palácio do governador, que adernava, espalhando os lustres pelos tectos trabalhados.
O leitor suava. Nunca uma obra tinha mexido tanto consigo. Como poderia voltar a ler, depois disto? Sentado à mesa? Recostado na poltrona? Imagens de tal modorra arrepiavam-lhe a nuca.
Deu por si a mordiscar pequenos contos, no baloiço do parque, às escondidas. De madrugada, antes da primeira fornada, corria pela marginal ao ritmo dos audiolivros mais populares. Nunca o confessou, mas foi visto a montar o cavalo branco do carrossel vermelho, enquanto lia os clássicos russos.
Não há limite para a degradação humana. Uma vez, leu de um fôlego uma história vertiginosa, enquanto se lançava da janela do 23º andar do Hotel de l´Ecole Centrale, em Paris. Mas isso foi só uma vez.
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