20111204

Marraquexe, Marrocos Os pescadores aguardam, à entrada dos derbs, o passar o cardume: esperam os soltos. Mal os sentem, lançam-se na corrente e tornam-se engodo. Rasgam um sorriso em mil pedacinhos brancos e atiram uma mão cheia, no caminho da vítima. Esta, se se recusa a avançar, tem já um braço à volta dos ombros, a cortar-lhe a retaguarda. Um molho de menta fresca é logo enfiado no nariz, que já ferve. Tudo parece bem, agora. A presa dócil segue o captor, em esperançosas flutuações pelos canais. O sol forte dá lugar ao breu mofo de uma entrada baixa. Os olhos demoram a responder. É o suficiente para o incauto cair no tanque. A cal viva deixa-o meio morto e todo careca. Agora é fácil, com alavancas de cedro, mudá-lo para a bacia de guano, onde se vai tornar rijo. Uns dias depois, sob placas de açafrão e canela, o sujeito estará macio e perfumado, pronto a ocupar o seu lugar em frente a uma lareira. Há quem não note diferença, nesta nova forma de vida. Há até quem se sinta mais feliz. É que é bem melhor sentir os corpos nus que se lhes enrolam, ao serão, do que as solas entranhadas de gravilha que os amansaram a vida toda.

1 comentário:

Jorge Machado disse...

Imagem impressionante.
Adorei a foto.