20210704

Lisboa, Portugal

Hoje, alertado por uma conversa cruzada sobre o meu Bacalhau à Brás, cheguei à triste conclusão de que não há nada que eu costume dizer. “Como eu costumo dizer”, diziam na mesa ao lado e, zás!, uma banalidade. Esta máxima de empoderamento que eleva o orador à categoria de citado, escapa-se-me. Dei voltas à cabeça, puxei pela dita, remoí a batata até a deixar em palha, e nada! Não me surge mesmo nada que eu costume dizer. Que terrível sensação de vazio. Que animal sem hábitos sou eu. A minha prestação numa qualquer conversa fica assim manca, efémera, sem um pilar de sabedoria onde se ancorar. Que maravilhoso e tranquilizador fecho de diálogo é ouvir “Como eu costumo dizer, cá se fazem, cá se pagam.”, ao qual respondemos com um sorriso benevolente e um imperceptível anuir de cabeça. É isto que congrega ouvintes; que junta magotes. Estarei então condenado ao discurso disperso, errático e mutante? Ao irremediável monólogo? Ãh…?

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