Ontem não fiquei em casa. Saí. Saí, não para me empanturrar da benesse que é estar em calamidade mas porque atualizar as vacinas do meu filho era assunto emergente.
Vivo como um finado há tantas semanas que a cidade não me reconheceu a expressão fechada. Pela rua eram todos figurantes apressados, irrelevantes ao argumento.
Vagueei um pouco por este desanimado filme de Miyazaki, com crianças a brincar às caras escondidas com a natural adaptabilidade que lhes é inata. Vi gente afastada, ciosa da sua área protegida, vi jovens de riso nervoso, e vi gente com máscaras puxadas ao queixo, como um capacete de motorizada displicentemente pousado na testa.
Torna-se difícil respirar, fazer chegar aos pulmões algum ar livre de informação insidiosa. Se é um conspirador vampiro-asiático, bicho-papão, se um comité formado por baleias revoltadas e cisnes desocupados, um soluço cósmico ou puxão de orelhas divino, o certo é que a lixívia esgotou e todos os dias perdemos momentos únicos e ganhamos dores que se vão repetir ainda por muito tempo.
No regresso a casa senti que a nortada fria me apressava a chegada à casamata. E, curioso, dei por mim a evitar pisar uma máscara desprotegida, caída no chão; não sei se por receio de contágio se por respeito a quem nela confiou a vida.
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