Ilha da Boa Vista, Cabo Verde
De labaredas ao vento, o jovem fogacho lavra em terreno seco. Nivela a mata suja, espalha brasas e lança mancheias de cinza escura.
Ao longe, um homem descobre o fogo e desata a gritar e a gesticular, reunindo um grupo de gente, também ela, muito excitada. De balde e ramos verdes, a multidão cerca as chamas, açoitando-lhes os calcanhares enquanto, no calor da refrega, alguns mais afoitos desatam a urinar-lhes nas plantas dos pés.
O fogo, suado, fica pasmado com esta falta de consideração. Ainda há pouco um destes escaravelhos o tinha ateado e instruído das terras a lavrar, e agora cortam-lhe as vazas e mijam-lhe em cima. Acossado, aproveita uma rabanada de vento e trepa pelo eucalipto mais alto, erguendo a sua tocha, em desafio.
No horizonte, um bombardeiro d'água aproxima-se, de tanques cheios.
A língua do fogo seca e uma nuvem de faúlhas zomba em seu redor.
- Que pena não ter trazido comigo uma daquelas camponesas roliças que dali esganiçam. - pensou, empoleirado no alto do eucalipto, enquanto batia com os punhos no peito. - Dava uma bela alegoria.